A Terapia de Aceitação e Compromisso (do inglês acceptance and commitment therapy); ou ACT é uma psicoterapia comportamental criada por Steven Hayes e colaboradores no ano de 1987. Seu objetivo foi ajudar os pacientes a desenvolverem flexibilidade psicológica, ou seja, ajudar os indivíduos no aprender a lidar com as memórias, sentimentos e pensamentos, ainda que desagradáveis, em vez de fugir deles ou mesmo evitá-los de todo jeito. Essa modalidade de psicoterapia ajuda o indivíduo a buscar uma vida com mais sentido (SABAN, 2015).
Hayes e colaboradores desenvolveram dentro dessa psicoterapia, o chamado hexaflex, representado pelo desenho de um hexágono, com um modelo descrito nele do funcionamento humano e de mudança de comportamento:
FIGURA 1: Hexágono da inflexibilidade psicológica. Tradução e Adaptação de Wilson, Strosahl & Hayes, 2012. p.62.
Inflexibilidade Psicológica: No modelo do hexaflex na figura 1, observa-se a presença da rigidez psicológica, o que é segundo os autores, a causa essencial do sofrimento e do funcionamento humano mal-adaptativo (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
A Esquiva Experiencial se caracteriza como um padrão comportamental de evitar, suprimir, ou eliminar emoções, sensações e pensamentos indesejados. Segundo estes autores, quando tentamos fugir das emoções, a capacidade do indivíduo de perceber o momento presente reduz, e a longo prazo as situações a serem evitadas pelo sujeito vão aumentando e empobrecem a qualidade de vida (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021), e faz com que a pessoa deixe de ter experiências importantes (SABAN, 2015).
Na Fusão cognitiva o cliente não separa a si mesmo das emoções e pensamentos que os visita, assim, acredita literalmente em tudo o que passa em sua mente (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021). Por levarem o conteúdo de suas mentes ao pé da letra sofrem (SABAN, 2015), agem de acordo com os pensamentos ou sentimentos temporários que os visitam.
O Self como conceito é observado quando indivíduo se descreve por meio de rótulos: sou ansioso, estou deprimido, sou igual a meu pai, sou assim porque me aconteceu aquilo, o que indica que a pessoa não considera os diferentes contextos pelos quais o indivíduo viveu ao longo do tempo, como se aquelas histórias por si só o definissem (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021),
FIGURA 2: Hexágono da flexibilidade psicológica. Tradução e Adaptação de Wilson, Strosahl & Hayes, 2012. p.67.
Para se compreender a transição do funcionamento da rigidez para o da flexibilidade psicológica, é necessário que o terapeuta tenha em mente de que todo comportamento é funcional, ou seja, tem uma função, ajudou a pessoa a atravessar fases difíceis antes, mas que agora está trazendo prejuízos. Dá-se início assim a fase da desesperança criativa, que é a mudança de postura do paciente, de desistir do controle dos sentimentos e pensamentos.
A proposta da Terapia de Aceitação e Compromisso é auxiliar o paciente a trocar as tentativas desgastantes de controle para a busca de uma vida mais valorizada. O psicólogo propõe exercícios específicos em um ambiente terapêutico seguro para promover mudanças de comportamento, o que reduz o sofrimento (SABAN, 2015).
Self como contexto: Nossa identidade evolui e muda ao longo do tempo, somos seres sociais, conscientes da nossa própria dor e da dor das outras pessoas, com compaixão e auto aceitação (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Valores: São consequências livremente escolhidas, são dinâmicos e progressivos, com engajamento pelo próprio indivíduo, apropriando-se das ações, focado nas escolhas pessoais (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Aceitação: É uma postura, ação, modo de se relacionar com o que pensamos e sentimos em cada momento. Aprendemos a entrar em contato com eles ao invés de tentarmos fugir deles, aprendemos com a experiência sem se misturar a elas (SABAN, 2015). Uma postura ativa, aberta e flexível (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Desfusão: Aprendermos a observar os pensamentos, memórias e sentimentos sem necessariamente mergulharmos neles ou a acreditar no que eles nos dizem, são impressões, temporários, vem e vão (SABAN, 2015).
Na visão da ACT o único momento em que alguma coisa acontece é no aqui e agora, o presente é tudo o que há, isto é, prestar atenção ao que acontece no agora de maneira voluntária, receptiva e flexível (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Os indivíduos em sofrimento costumam se julgar com muito rigor, assim, ambientes disfuncionais e ou invalidantes dificultam que os clientes nomeiem o que pensam ou o que sentem, bloqueando-os ou fugindo deles (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
A ACT tem revelado resultados promissores em quadros como estresse no trabalho, dor, tabagismo, ansiedade, drogadicção, TOC, câncer e diabetes (ZETTLE, 2003 apud HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
REFERÊNCIAS
HAYES, S. C.; STROSAHL, K.D; WILSON, K.G. Terapia de aceitação e compromisso. O processo e a prática da mudança consciente. Artmed. 2 edição. Porto Alegre. 2021.
HEXAFLEX. Disponível em: https://comportese.com/2019/09/20/o-que-seria-esse-tal-de-hexaflex-entendendo-o-conceito-de-flexibilidade-psicologica-em-act. Acesso em 19 de outubro de 2021. 19hs.
SABAN, M.T. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. Artesã ed. 2 edição. Belo Horizonte. 2015.
Wilson, K.G., Strosahl, K.D., Hayes, S.C. (2012). Acceptance and commitment therapy: the process and practice of mindful change. 2 ed. New York: The guilford press, pp. 60-66.
ZETTLE, R. D. Acceptance and commitment therapy vs. Systematic desensitization in treatment of mathematics anxiety. Psychological Record., 53,197-215. 2003.
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